segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Portugal ferreirista e as burkhas disfarçadas.


É hilariante e absurdamente grotesco ouvir Manuela Ferreira Leite dizer que se quer destruir as famílias e as bases da sociedade, ao caminhar-se pelas estradas da nova lei das uniões de facto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou na legislação que desembrulha o embrulhanço do divórcio. A líder do PSD não entende que não é dificultando o divórcio, que não é criando processos de divórcio morosos, lentos e burocratizados, que não é restringindo o casamento a heterossexuais nem desvalorizando e remeter para o campo das "coisas menores" as uniões de facto, que a sociedade se constrói melhor em si mesma. É justamente uma sociedade que tolera, que respeita a diferença e que não trata de forma diferente as desigualdades que lhe são intrínsecas, pois que estas desigualdades existem e evoluíram até aqui, pelo mérito e respeito que lhes são inerentes. Não podem as sociedades, nem as politicas, nem as leis impôr uma visão de valores e de ideias, baseadas em puros dogmas de religiosidade, em visões de futuro e da vida em sociedade que se baseiam numa pseudo-tolerância cristã, ou em valores arcaicos que parecem muito bem quando ditos e tresditos, sem que eles traduzam aquilo que é a realidade e a natureza das coisas presentes. Votar PSD nas próximas eleições é votar numa ideologia arcaica, em que os valores não são mais do que a tradução mental de interiorizações católicas e espirituais. Votar PSD é votar num sistema de pensamento secular, colado a noções rígidas e dogmáticas que teimam em não se adaptar ao mundo contemporâneo. A visão de futuro, a visão progressista e inovadora, a visão de um sistema de valores que é, antes de mais, inerente ao Homem que vive em sociedade, ao ser social e ético que somos, e não a mandamentos ou assombros de pecado, essa visão de amanhã é partilhada pela esquerda moderna. Os valores sociais desta visão progressista são o resultado e a premissa de uma vida social colectiva. Esta futuro de modernidade, de adaptação à realidade, de progresso só pode ser alcançado votando contra as politicas arcaicas, discriminadoras, anti-sociais, inadaptativas,conservadoras e estáticas que são as políticas da direita.


Em que país vive Manuela Ferreira Leite? É certo que a líder da oposição gostaria de viver num em que o divórcio fosse fonte de problemas legais e burocráticos, em que a união de facto, ou de facto, as uniões que não o casamento, merecessem ser menosprezadas, desvaloralizadas, colocadas em segundo plano face ao casamento... quereria viver certamente num país em que só homens e mulheres pudessem casar e todos os outros não casados deveriam ser taxados por não cumprirem os pseudo-desígnios da sociedade e da família clássica cristã. Manuela Ferreira Leite não vive em Portugal nem na Europa da era moderna. Manuela Ferreira Leite gostaria de um Portugal de burkha...

3 comentários:

  1. Muito bom texto. Concordo inteiramente consigo.

    Se essa senhora chegar ao poder (sinceramente, tenho sérias dúvidas), estaremos a hipotecar ainda mais o nosso futuro, pois estaremos a entregar o poder nas mão de uma mente tacanha, retrógada e preconceituosa.

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  2. Vejo obrigada a concordar plenamente contigo...
    Infelizmente não vejo a senhora como um bom dirigente do país.. Acho sim, que se o poder lhe for parar às mãos Portugal vai regredir duas ou três décadas. Por mim a senhora não será primeira ministra, sou demasiado moderna para depositar o meu voto numa pessoa tão retrógada.

    Um beijinho, gostei do blog

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  3. Obrigada Nuno.
    Na realidade, dizer que gosto de política pode ser um bocadinho extremista. Aprecio um bom debate, aprecio o poder de oratória que alguns políticos possuem, bem como as incoerências em que estes acabam por cair.
    E quanto a essa tal malfadada asfixia democrática - concordo contigo na aversão causada pela sua constante repetição - é deplorável ver a Srª Ferreira Leite, bem como o seu colega de regabofes, João Jardim, a negarem algo que qualquer um vê: a madeira é uma semi-ditadura (para não dizer totalmente)...
    Um beijinho, vou seguir-te.

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