sexta-feira, 31 de julho de 2009

A solução tarda...Aung San Kyi: Walk on!



A leitura da sentença de Aung San Suu Kyi, líder da oposição birmanesa e ativista dos direitos humanos foi, de novo, adiada pelo "Tribunal". Desde 2003 em prisão dimiciliária por se opor a um regime político ditatorial, tinha sido acusada de desrespeitar os termos da prisão domiciliária ao permitir que um jornalista americano pernoitasse em sua casa. Já anteriormente havia sido presa, na sequência da esmagadora vitória nas eleições de 1990 do seu partido, a Liga nacional para a Democracia, que a junta militar no governo recusou aceitar.


Assistimos, e temos vindo a assistir, ao diário atentado contra os direitos humanos do governo totalitário birmanês, que oprime e mantem presas as pessoas que, como Aung Kyi, lutam diariamente pelos valores da democracia, da liberdade e pela defesa dos direitos humanos.


O mundo deve a Aung San Suu Kyi (Prémio Nobel da Paz 1991) muito pela luta democrática. Obrigado Aung San Suu Kyi!

"Walk On, Walk On, what you´ve got they can´t deny, can´t sell it, can´t buy it, Walk on, Walk on, stay safe tonight." Walk on, U2, Música escrita para Aung San Kyi

Hospital de Todos os Santos




O Hospital de Todos os Santos vai substituir o actual Centro Hospitalar de Lisboa Central (São José, Santa Marta, Desterro, Capuchos e Estefânia), conta com a grande maioria das valencias médicas, médico-cirúrgicas e cirúrgicas, serviço de urgência geral, pediátrica e obstétrica.Fica situado no parque da Bela Vista, em Chelas. 789 camas, todas em quartos individuais com possibilidade de passarem a quartos duplos se houver necessidade.Vai também ser parte integrante do ensino da medicina, aos alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (anfiteatros, salas de aula, biblioteca, videoteca, 2 salas de alunos). A inauguração e início de actividade estão previstas para 2012. Ficam aqui umas fotos arquitectónicas.

A pensar já no Internato Complementar? Maybe, maybe....

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quem se lembra de Sophia?



"Ou era a Sophia ou era eu."

José Saramago, quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura.

Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
e os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
e tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

domingo, 26 de julho de 2009

O testamento vital

O CNECV emitiu o seu parecer, desde já desfavorável, sobre o projecto lei Nº788/X, apresentado pelo grupo parlamentar do PS e aprovado no parlamento em Maio, tendo a discussão do referido projecto sido adiada para a próxima legislatura. Este projecto-lei visa a "dignidade do doente, no que respeita à prática de actos médicos, garantindo um permanente equilíbrio entre a liberdade individual e o desenvolvimento da biologia e da medicina na prática médica e o carácter personalizado da relação médico-doente." Basicamente, era com este suposto documento que se regularizaria, em termos jurídicos, o chamado testamento vital, não obstante o facto de não se perceber o que de "vital" e o que de "testamento" tem o referido projecto. Creio que o termo "declaração antecipada de vontade" é bem mais rigoroso. Mas, nomes à parte, esta questão da declaração antecipada permite ao indivíduo, são e perfeitamente capaz, a possibilidade de deixar escrito que tipo de tratamento, acto ou conduta médica é que ele próprio permite que lhe seja feito (a), quando, por variadíssimas razões, não usufrua das suas plenas capacidades mentais, como por exemplo um estado vegetativo persistente.

O referido projecto-lei, realmente só em 2 de 24 artigos é que explicita esta questão da declaração antecipada de vontade, e fá-lo de forma bastante incompleta e imprecisa. Eis o que diz o projecto lei a este respeito:

"Artigo 14º
(Declaração antecipada de vontade)
1. Através da DAV, o declarante adulto e capaz, que se encontre em condições de plena informação e liberdade, pode determinar quais os cuidados de saúde que deseja ou não receber no futuro, no caso de, por qualquer causa, se encontrar incapaz de prestar o consentimento informado de forma autónoma.

Ao dizer-se "cidadão capaz" implica que existam cidadãos que não são capazes de fazer tal declaração. Quem são estes "não capazes"? Os alcoólicos crónicos são capazes ou não capazes? E os oligofrénicos? E as pessoas com depressão? E os doentes com depressão em tratamento? É importante que se defina quais são as características que definem a pessoa como capaz de fazer a DAV.

É essencial que se diga que os doentes, ao exercerem a sua autonomia, o fazem, não só para negar/recusar tratamentos mas também para os aceitarem. Aliás, a regra para quem faz clínica é a de que o doente "entrega" ao médico a sua vida e saúde e nele confia. Esta é também uma forma de exercer a autonomia de uma maneira não negativista como o documento, ás vezes, parece traduzir.Obviamente que desta "autonomia" e lógica do "o Sr. dr é que sabe" advém a conduta paternalista do médico, mas isto, é outra questão. A pedra angular da relação médico-doente é pois a confiança, e não propriamente a autonomia do doente exercida ao extremo de quem, por não ser a sua formação, não sabe o que é melhor para ele, se o tratamento X ou Y, se o fármaco A ou B ou C ou a combinação destes. É extremamente difícil o exercício pleno da autonomia, apesar do conceito em si ser mais do que lógico e sendo ele aliás um dos princípios éticos base em Medicina. O que questiono não é o conceito de autonomia, obviamente que defendo que todos os doentes devem ser informados e devem decidir, mas não se pode levar o conceito para o extremo, como que querendo passar toda a responsabilidade da decisão para o doente. Isto é particularmente válido em situações de urgência. Como exerce a autonomia uma pessoa que entra na urgência em paragem cardiorrespiratória? Há tempo para informar o doente sobre os riscos de uma cirurgia de reparação de um aneurisma da aorta abdominal que rompeu, dando todos os ingredientes para uma decisão ponderada e exercício pleno da autonomia?

Continuando com o documento:

" 5. A eficácia vinculativa da DAV depende (...) do grau de conhecimento que o outorgante tinha do seu estado de saúde, da natureza da doença e da sua evolução; do grau de participação de um médico na aquisição desta informação; do rigor com que são descritos os métodos terapêuticos que se pretendem recusar ou aceitar; da data da sua redacção; e das demais circunstâncias que permitam avaliar o grau de convicção com que o declarante manifestou a sua vontade"

A DAV não só diz respeito a procedimentos médicos que o doente recusa mas também a procedimentos que quer que lhe seja prestado. Está claro que os procedimentos que o doente quer que lhe sejam facultados podem não ser os correctos, quer em termos médicos, quer em termos sociais ou até morais. A eficácia vinculativa da DAV, conforme explicitada no projecto-lei, dá a ideia de ela poder ser, em qualquer altura, desconsiderada em face das características que enumera. Parece-me que trai o objectivo principal da DAV. Como se avalia o grau de convicção de uma pessoa que expressou um conjunto de vontades na DAV? Faz sentido sequer que se avalie isto na altura em que é a DAV que deve ser considerada? Como terá acesso o serviço de saúde à DAV de determinado doente em situação de urgência?

Estas questões que levantei estão explicitadas no parecer da CNECV. Obviamente que defendo e sou favorável à declaração de vontade antecipada e, como médico, respeito a decisão do meu doente informado. Creio contudo que o projecto-lei é impreciso e cravado de lacunas importantes que devem ser esclarecidas para que se construa uma lei de DAV verdadeiramente rigorosa e ética.

domingo, 19 de julho de 2009

Os sangues dos outros


Defende a Associação Médicos pela Escolha a aplicação das normas europeias (2004/33/CE) que vinculam automáticamente os Estados Membros a não conter qualquer referência à discriminação de doadores homossexuais masculinos:
"Permanent deferral criteria for donnors of allogeneic donations (...) Sexual behaviour: Persons whose sexual behaviour puts them at high risk of acquiring severe infections diseases that can be transmitted by blood."
Apesar de, o critério discriminatório "homens que têm sexo com homens" tenha sido retirado da página do Instituto Português do Sangue, em 2005, mantém-se nos manuais que "estão já a ser revistos". Tarda contudo a publicação da dita revisão e a nova lei orgânica do IPS.
Só a testagem de TODO o sangue permite uma maior segurança e qualidade de todos os hemoderivados.

sábado, 18 de julho de 2009

O estranho caso de Hannah Clark

Hannah Clark, 16 anos, recebeu, quando tinha apenas 2 anos, o diagnóstico de Insuficiência Cardíaca devido a uma miocardiopatia, que é uma doença primária do músculo cardíaco. Basicamente, o seu coração era incapaz de contrair eficazmente para bombear o sangue aos seus órgãos. Recebeu, nessa altura, um transplante de coração, preservando contudo o órgão original que não foi retirado. Teve de ser submetida a intensa terapêutica imunossupressora (para o seu organismo não rejeitar o órgão transplantado) ao longo da vida. Como consequência da imunossopressão desenvolveu cancro, que é um dos problemas deste tipo de terapêutica. Com base na impossibilidade de continuar essa medicação, o órgão transplantado teve de ser retirado e, admiravelmente, o coração, inicialmente doente, recuperou completamente a sua função, permitindo-lhe, hoje, viver normalmente com ele.

Não é comum este tipo de recuperação e é realmente admirável quando se assiste, em Medicina, a este tipo de "milagre". É uma lição para todos nós, médicos e outros, que os diagnóstico mais desfavoráveis, podem ter os desfechos mais imprevisíveis.

O oito e o Oitenta. Apresentação

É no mínimo estranha e caricata a forma como ele surgiu. Desde que entrou na sala, desde que pela primeira vez se sentiu humano, ele confrontou-se com esta avassaladora realidade que é quando nós, eu e tu, deixamos de o ser, para passarmos a ser os outros, para passarmos a estar com os outros, para deixarmos de ser 1 só connosco, para nos tornar 1 só com os outros. É socialmente que nos construimos, é socialmente que nos relacionamos, é indubitável que a nossa mais profunda essência humana passa pelo estar na mais profunda solidão social. Somos um só entre tantos e tantos num só.

Pretendo, com este espaço meu, partilhar convosco algumas ideias, que pretendo que sejam variadas, amplas, plenas...basicamente abordar o oito e o oitenta, sem esquecer os permeios.