segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O mundo e as ideias de secura


deus como uma ideia de si próprio. A propósito do post de Carlos Vidal, que vale bem a pena ser lido e treslido.

"Confesso que estava a adorar ler o seu texto, Carlos Vidal, até ao fim do primeiro parágrafo, mas depois fiquei abismado, pla forma, enfim “seca”, como se refere ao suposto ateísmo, ele também seco, e pela forma como minimiza e relativiza estas questões.


Vou dar-lhe então a minha opinião pessoal. Obviamente que o sagrado existe, nem consigo conceber um mundo sem a ideia do sagrado e do profano…mas creio que se engana redondamente ao eleger a ideia do sagrado como o adversário do ateismo, até porque não existem adversários….Chama secos a quem não reconhece deus como deus, quem não lhe atribui qualquer significado que não o meramente histórico, ou aquilo que ele representa, enquanto ideia que é (para mim está mais do que claro que deus e toda a circunstância do divino existem, no ambito meramente das ideias, são o produto, complexo, de uma intensa actividade neuronal, que foi surgindo, à medida que o Homem se cerebralizou). Creio por isso que deus, ou melhor, a ideia de deus, é fruto necessário da evolução dos sistemas nervosos ditos superiores. de reparar que, aparentemente, todo o ser vivo dotado de sistemas neuronais menos complexos, aparentemente, não tem a ideia desta coisa que é o divino. O que me custa perceber, carlos, e isso não entendo mesmo, é como se apelida de “seca”, uma visão do mundo que se pretende descolada das ideias do divino, que a par da ideia da existência de deus, pretende uma naturalização dos fenómenos, uma explicação que, ela propria, surge e se submete ao rigoroso crivo da prova. Este descolamento do divino, não é um atentato ao divino, per si, em minha opinião, e essa acho que que foi a falácia que cometeu.O que se pretende é o afastamento das visões puramente “esfumadas”, puramente acentes em ideias, sucessões de ideias, encadeadas e que foram passadas ao longo de milénios, passadas, alteradas, radicalmente alteradas ao longo da história,ideias plasmadas em livros “sagrados” que não são mais do que importantíssimas obras de literatura e romance… ideias essas que pariram, na actualidade, um deus novo. O deus de hoje, não é o deus de ontem, nem o deus de há 3000anos…o deus de hoje, que lhe dão a conhecer, ou pretendem dar, foi construido,e sabe bem o carlos onde. A ideia do divino, o divino que todos os dias se lhe apresenta, é um divino construido, é um divino seleccionado, é um divino “comercial”. esta ideia de deus, e deus, ele próprio, não poderiam estar mais longe um do outro. E creio que a falacia aqui, desta vez não sua, mas do ” todo social religioso”, é que não reconhecemos a diferença, nem distinguimos aquilo que é o divino, enquanto matéria prima, e a sua ideia, sobre a qual nos regemos e a partir da qual pretendemos, levianamente, apelidar de “seco” todos aqueles e aquelas que vêm nisto, exactamente o que é, uma ideia concebida, arquitectada, com propósitos que enfim, desconheço.

As palmiras, caro carlos, são absolutamente necessárias. As palmiras, carlos, não são “secas” ,pelo contrário, apresentam-se ao mundo por via da prova,correndo o risco de, pela prova, se molharem… e isto, este risco que todos os dias a ciencia corre (o risco da molha) é produto do seu próprio rigor. A ciência é rigor e exige rigor a tudo o que ela própria produz. A ciencia é mãe e madrasta de si própria…ao contrário, muito pelo contrário, as ideias do divino, essas sim, são “secas”, pois que não se molham nem fazem ideia do que isso é, pois que lá permanecem, no campo das ideias, longe de tudo e de todos, descoladas, á parte do mundo, apresentando-se como ideias e não necessitanto de prova, nem de explicação nem de compreensão…elas necessitam somente que nos calemos perante elas. E isto Carlos Vidigal, é a verdadeira secura.

PS. declaração de interesses: sou ateu e homem da ciência e tenho a mais plena convicção acerca do que são as ideias de deus,a noção/ideia do divino, a noção/ideia do sagrado e do profano, e a noção/ideia da religiosidade do ser humano. Tudo isto existe, não o nego…tudo isto são ideias. Fiquei abismado com esta sua frase :”um laboratório onde o leitor é informado rigorosamente sobre o que deve e não deve (pode e não pode) acreditar”…desconhece o que é, para que serve e sobretudo como se faz ciência. Tem a certeza que esta frase é dirigida às “palmiras” como lhe chama?? É que ela parece-me a definição quase perfeita de tudo o resto, menos do “ateísmo seco”. Parece-me a definição major da religiosidade seca"

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

The GAP


"I've learned that the gap between what we assume people do sexually and what they actually do is enormous. ... " Alfred Kinsey (a propósito de mais um novo e insólito argumento)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Naturalmente







Como bem fez em lembrar Palmira F.Silva, celebramos os 150 anos da publicação d´As origens das espécies, de Darwin. O legado foi enorme...provavelmente só justamente comparado, como bem fez aqui Paulo Gama, a Nicolau Copérnico.

A variabilidade intra-específica, substrato sobre o qual actua a selecção natural, é um dos pontos chave da teoria darwiniana. Assim se define que, quanto mais diversa é a população de determinado meio, maior é a hipótese que, de entre tal diversidade, surjam as características que, perante aquele meio, sejam consideradas adaptativas. Mais tarde se acrescentou que esta variabilidade intra-específica, este motor da evolução, é na realidade, uma variabilidade genética, sendo esta ultima asserção um dos pilares do neo-darwinismo.

Como tal, a natureza que gera a variabilidade é a mesma natureza que actua sobre ela, seleccionando aqueles que, perante dado contexto, possuem as características que lhes permitem uma melhor adaptação...quem sobrevive não é necessariamente o mais forte, mas sim o mais bem adaptado ao meio. O papel do meio, para Darwin, é também essencial. O meio natural gera pressões selectivas sobre a biodiversidade, e essas pressões selectivas são diferentes, dependem do contexto...determinadas espécies que estão bem adaptadas sobrevivem e reproduzem-se, espalhando na natureza os genes que, a elas próprias, conferiram vantagens adaptativas.

As teorias darwinianas não nasceram espontâneamente, não foi uma ideia maravilhosa que se instalou de repente. Ela teve o contributo mais que decisivo da geologia, que deu a Darwin, o período de tempo que ele achava necessário para se consumar a evolução... e nasce, também em geologia, a ideia de que o planeta sofre uma série de transformações, lentas e graduais, ao longo de muitos milhares de anos, em contra posição às teorias catastrofistas, afirmando que a evolução se dá por rupturas abruptas do equilíbrio natural prévio.

Em suma, o legado de Darwin foi de tal forma importante que, ainda hoje, 150 anos depois, se mostra actual...e ainda hoje, a teoria da Darwin gera novas áreas de conhecimento, gera novas ciências a partir da ciência, gera novas conclusões, novos mundos que se desconheciam até então.

Darwin morreu, mas o darwinismo está mais vivo do que nunca, renova-se, melhora-se, reinventa-se nos novos conhecimentos. Tal como se afirma na teoria, ela própria, a teoria, evolui!

Evoluímos, estamos em evolução, somos evolução...

Como bem disse Dobzhansky "nada em biologia faz sentido a não ser à luz da evolução"













sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A prova

Pois bem, ontem, espalhados por Porto, Lisboa, Coimbra, Covilhã, Açores e Madeira, mais de 13oo finalistas do curso de Medicina, agora médicos, realizaram a prova nacional de seriação. Como em tantas outras vezes, a prova era dificil, ambígua, cheínha de rasteiras. Gostaria de dizer que correu bem, mas tal não seria verdade. Resta-me agora aguardar pela chave a ser divulgada, para, por mão propria, ver e admitir os erros e a falta de atenção.
É dificil, para quem vê de fora, perceber a importancia deste exame para quem o faz. Os alunos estudam mais ou menos um ano para isto e em 2h e 30, tem de demonstrar, não o que sabem, mas sim a sua capacidade de detectar a mais ténue das alterações numa longa frase.E assim sendo são depois seriados, da melhor nota para a pior, no sentido de escolherem, daqui a um ano, a especialidade de querem/podem escolher. Arrisco-me a dizer que só cerca de 200 pessoas é que escolhem aquilo que realmente querem, os outros, que não conseguiram notas tão altas, terão de se contentar com o que houver. É o sistema que temos, está mal, está errado, mas não temos outro. Enfim, mas o tormento acabou e resta agora descansar, aproveitar e esperar por Janeiro para começar a trabalhar, num hospital e urgencia perto de si.
PS Um muito obrigada a todos aqueles e aquelas que, antes do exame, me desejaram boa sorte.