"Confesso que estava a adorar ler o seu texto, Carlos Vidal, até ao fim do primeiro parágrafo, mas depois fiquei abismado, pla forma, enfim “seca”, como se refere ao suposto ateísmo, ele também seco, e pela forma como minimiza e relativiza estas questões.
Vou dar-lhe então a minha opinião pessoal. Obviamente que o sagrado existe, nem consigo conceber um mundo sem a ideia do sagrado e do profano…mas creio que se engana redondamente ao eleger a ideia do sagrado como o adversário do ateismo, até porque não existem adversários….Chama secos a quem não reconhece deus como deus, quem não lhe atribui qualquer significado que não o meramente histórico, ou aquilo que ele representa, enquanto ideia que é (para mim está mais do que claro que deus e toda a circunstância do divino existem, no ambito meramente das ideias, são o produto, complexo, de uma intensa actividade neuronal, que foi surgindo, à medida que o Homem se cerebralizou). Creio por isso que deus, ou melhor, a ideia de deus, é fruto necessário da evolução dos sistemas nervosos ditos superiores. de reparar que, aparentemente, todo o ser vivo dotado de sistemas neuronais menos complexos, aparentemente, não tem a ideia desta coisa que é o divino. O que me custa perceber, carlos, e isso não entendo mesmo, é como se apelida de “seca”, uma visão do mundo que se pretende descolada das ideias do divino, que a par da ideia da existência de deus, pretende uma naturalização dos fenómenos, uma explicação que, ela propria, surge e se submete ao rigoroso crivo da prova. Este descolamento do divino, não é um atentato ao divino, per si, em minha opinião, e essa acho que que foi a falácia que cometeu.O que se pretende é o afastamento das visões puramente “esfumadas”, puramente acentes em ideias, sucessões de ideias, encadeadas e que foram passadas ao longo de milénios, passadas, alteradas, radicalmente alteradas ao longo da história,ideias plasmadas em livros “sagrados” que não são mais do que importantíssimas obras de literatura e romance… ideias essas que pariram, na actualidade, um deus novo. O deus de hoje, não é o deus de ontem, nem o deus de há 3000anos…o deus de hoje, que lhe dão a conhecer, ou pretendem dar, foi construido,e sabe bem o carlos onde. A ideia do divino, o divino que todos os dias se lhe apresenta, é um divino construido, é um divino seleccionado, é um divino “comercial”. esta ideia de deus, e deus, ele próprio, não poderiam estar mais longe um do outro. E creio que a falacia aqui, desta vez não sua, mas do ” todo social religioso”, é que não reconhecemos a diferença, nem distinguimos aquilo que é o divino, enquanto matéria prima, e a sua ideia, sobre a qual nos regemos e a partir da qual pretendemos, levianamente, apelidar de “seco” todos aqueles e aquelas que vêm nisto, exactamente o que é, uma ideia concebida, arquitectada, com propósitos que enfim, desconheço.
As palmiras, caro carlos, são absolutamente necessárias. As palmiras, carlos, não são “secas” ,pelo contrário, apresentam-se ao mundo por via da prova,correndo o risco de, pela prova, se molharem… e isto, este risco que todos os dias a ciencia corre (o risco da molha) é produto do seu próprio rigor. A ciência é rigor e exige rigor a tudo o que ela própria produz. A ciencia é mãe e madrasta de si própria…ao contrário, muito pelo contrário, as ideias do divino, essas sim, são “secas”, pois que não se molham nem fazem ideia do que isso é, pois que lá permanecem, no campo das ideias, longe de tudo e de todos, descoladas, á parte do mundo, apresentando-se como ideias e não necessitanto de prova, nem de explicação nem de compreensão…elas necessitam somente que nos calemos perante elas. E isto Carlos Vidigal, é a verdadeira secura.
PS. declaração de interesses: sou ateu e homem da ciência e tenho a mais plena convicção acerca do que são as ideias de deus,a noção/ideia do divino, a noção/ideia do sagrado e do profano, e a noção/ideia da religiosidade do ser humano. Tudo isto existe, não o nego…tudo isto são ideias. Fiquei abismado com esta sua frase :”um laboratório onde o leitor é informado rigorosamente sobre o que deve e não deve (pode e não pode) acreditar”…desconhece o que é, para que serve e sobretudo como se faz ciência. Tem a certeza que esta frase é dirigida às “palmiras” como lhe chama?? É que ela parece-me a definição quase perfeita de tudo o resto, menos do “ateísmo seco”. Parece-me a definição major da religiosidade seca"