quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ele não anda bem

O senhor Cavaco não disse nada, não esclareceu nada... as únicas ideias com que fiquei foram:
- Eu sou uma vítima do PS, que me quer encostar ao PSD.
- Qual é o mal de assessores do Presidente terem dúvidas acerca de outras pessoas?- não é bem dúvidas senhor presidente, é a afirmação de que o próprio presidente estaria preocupado com eventuais vigilâncias do governo; se acha que isto não tem mal nenhum e nem é crime nenhum, então eu vou ali e já venho;
-O meu e-mail e computadores da presidência têm problemas de segurança. Pois, até os da CIA têm , senhor presidente, o seu não ia ter porquê? Só agora é que se lembrou disso?
- Tenho dúvidas, muitas dúvidas... mas afinal mais de 1 mês depois, não teve tempo de esclarecer tudo? Ainda tem dúvidas? Por amor à santa...
Fiquei sem saber se o Presidente acha ou não que está a ser escutado. Das duas uma: Se acha e é verdade, terá de o provar em primeiro e demitir Sócrates logo depois. Se acha que é mentira, tem de provar primeiro e depois então afastar, verdadeiramente afastar, os assessores guionistas de novela policial e pedir desculpa ao Povo, ao PS e ao Governo.
Este discurso todo da vitimização do Presidente é totalmente incoerente. Lembrar-se-á Cavaco Silva de que esta inventona partiu de lá, da Presidência? E agora a culpa é dos outros? Sinceramente, sr presidente, ou toma tino ou tem de voltar para o sítio de onde veio.

domingo, 27 de setembro de 2009

Today is the day

Encontrei esta foto inacreditável dos inacreditáveis que protagonizam o dia de hoje publicada aqui. Não deixem de votar. Têm muito por onde escolher: o/a personagem-maravilha, o homem/mulher elástico (a) que estica até aguentar, a besta per si, o/a super-speed, que tão depressa diz uma coisa, como logo a seguir diz outra e por fim o/a invisível, que ora está, ora deixa de estar. Cabe-lhe a si fazer corresponder às personagens da fantástica BD, as personagens não menos fantásticas de um mundo não menos fantasioso que é a política, essa coisa estranha. Mas não faça essa correspondência no boletim. Faça-a nos comentários. No boletim, ponha bonequinhos, o jogo do galo, caras bonitas ou feias, gestos obscenos se quiser, mas faça alguma coisa. Olhe, ponha umas cruzes se achar por bem. Bons votos ou bons desenhos.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quem cala consente



Quanto tempo mais é que vamos ter de esperar, para que o MR PRESIDENT, se resolva a falar e a explicar esta embrulhada toda? Esteve calado, demitiu um assessor e agora está novamente calado...Não querendo entrar na campanha eleitoral, já o está a fazer, pela omissão. Dizia ele, quando ainda não se tinha calado, que a campanha eleitoral não era o momento para falar...pois não, sr presidente, o momento para se explicar foi no mês passado, no dia seguinte às denúncias dos "disparates de Verão"... Quer dizer, a campanha não é altura para falar, o fim da legislatura não é altura para aprovar leis das uniões de facto (porque falta a discussão fracturante, dos temas fracturantes, está sempre tudo a fracturar-se)...E quando é altura, sr presidente, para começar a desempenhar o cargo para que foi eleito?Deixe-me adivinhar...é para depois das eleições?! O pior é que depois desta há outra e pelo que parece, lá vamos ter mais silêncios e mais leis não aprovadas pelo sr professor presidente, porque afinal, vamos estar novamente em campanha eleitoral. Quem espera sempre alcança? Ou quem espera desespera?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Os médicos



Num laivo assim mais ou menos literário, mais ou menos em tom de romance ou mais ou menos realista, proponho-me falar sobre esta estranha gente a quem chamamos, hoje em dia, médicos.
Quem, de entre nós, nunca olhou com um certo misto de admiração, repúdio e dúvida, para aquelas pessoas a quem foi atribuída a nobre missão de curar as maleitas dos outros, de salvar a vida dos outros, de deixar a sua família e os seus amigos, para salvar as famílias e os amigos dos outros ou até de os enfim, como direi, "matar" com os seus erros e enganos?


Na realidade,após passarem 6 anos na faculdade, após um pesado e cansativo exame para a especialidade, e depois de mais 5 ou 6 anos no internato para se tornarem especialistas, eis-que, após terminarem o seu caminho doloroso, lhes é pedido que salvem o maior número de pessoas que conseguirem e, se possível, que se enganem pouco ou nada, para que o número de pessoas mortas por eles seja o menor.

O seu papel é assim um pouco semelhante ao de Deus, havendo até médicos que, levados por este sentimento colossal do "acabei de lhe salvar a vida", possuem este síndrome do divino, de acharem que têm o poder em forma de conhecimento para dar ou tirar a vida. Reconheçamos realmente. que não é qualquer pessoa que, passadas 24h de urgência e chegada a casa, pode dizer "Hoje salvei 10 pessoas e perdi outras tantas". É porque os médicos têm esta nobre tarefa de serem médicos e pessoas ao mesmo tempo, de se conseguirem deslocar do seu próprio corpo, para se visualizarem no corpo dos outros, é porque salvam vidas e dos seus meros enganos, erros e distracções pode advir a morte de alguém, é por causa disto tudo que os admiramos e odiamos ao mesmo tempo.

O que é que lhes pedimos então? Pedimos-lhes coisas tão simples como, perante alguém a quem o coração parou, que façam o diagnóstico, instituam a terapêutica e recuperem a pessoa "morta" em menos de 2 minutos. Pedimos-lhes que, perante 150 doentes na urgência com tosse, que saibam discernir, às 4 e tal da manhã,após quase 20 horas de trabalho, quem de entre os com tosse tem uma simples gripe, 100,uma pneumonia,30,uma reacção adversa a medicamentos, 10, um cancro do pulmão,5 ou embolia pulmonar rapidamente fatal, 5.

Há uns meses atrás, dizia-me uma doente, já fortemente debilitada devido à agressiva terapia contra o cancro e com uma pneumonia grave bilateral, "Não se esqueça, doutor, que não há quem diga um ai e que não esteja a doer". É bem verdade isto, e nunca me esqueci. Cabe-nos então a nós, médicos, tratarmos não a anemia, a pneumonia, o cancro, o enfarte, mas sim a pessoa com anemia ou com enfarte ou com cancro. A dor trata-se com drogas, sim, mas não só. A vida dos médicos é estranha, a vida dos médicos é paradoxal e, como disse alguém importante, "a vida dos médicos não é fácil e é essencial que o não seja".

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sobre a corda



A forma como nos relacionamos é tudo menos simples. Desde a descoberta inicial até ao fulgor do sabermos exactamente aquilo que queremos, desde a dúvida de quem dá os primeiros passos quando até então só gatinhava, a angústia de quem parte a saber exactamente o destino mas a desconhecer por completo o caminho que terá de percorrer. É assim que vamos e que andamos nas pedras do caminho do amor. O dilema constante de caminhar e de por os pés nos sítios certos, a descoordenação dos sentimentos, a ataxia do amor atinge-nos como um relâmpago. E não estamos assim somente por estarmos apaixonados. Vivemos isto porque o sentimento, a paixão, é para com um outro semelhante a nós e é justamente porque o outro se nos afigura tão semelhante, que temos medo. Temos medo de caminhar em direcções opostas. Temos medo das expectativas dissonantes. Temos dúvidas se andamos do mesmo lado do passeio ou se simplesmente nos cruzamos quando íamos em sentidos trocados. Do mesmo lado do passeio do amor sim.


E se eu não chegar ao meu destino? E se, no caminho, as encruzilhadas me atrapalharem e eu tomar o trilho que leva ao desespero? E se eu não conseguir seguir pelo caminho certo, porque ele é traiçoeiro e difícil e os meus pés não aguentarem? Não depende só do caminho e do destino. Depende de quem o percorre e de quem a ele chega. É que é dentro de quem caminha que se vivem as coisas. É dentro dele que se afiguram todas as possibilidades. Não é senão na sua esfera interior que surgem o plano, os actores e os cenários. E ele sabe tão bem que tudo pode falhar, porque tudo aquilo foi sua criação. E é tomados pelo desespero que temos de estar. Neste milieu interior de dúvida, de medo e de angústia , seguimos em frente. Tropeçamos, caímos, mas seguimos em frente. Porque o caminho atrás de nós vai-se fechando. Não há retorno. Amamos enquanto caminhamos no sentido do amor. Amamos enquanto não sabemos o que é o Amor. Desconheçemos o propósito, mas sabemos exactamente ao que é que ele sabe, ao que é que ele cheira, porque o sentimos todos os dias debaixo da pele. Cheio de certezas e de dúvidas. Os paradoxos do caminho do amor atingem-nos como um trovão. Mas amamos. Mas amo, sei que amo, porque o sinto, apesar de não saber o que ele é. Sei que é o destino, sei que é para lá que corro todos os dias, mas dele não tenho mais senão fugazes vislumbres. E deixo-me ir. Arrastado sabe-se lá por que corda e muito menos por quem a puxa. Sinto-a enroscada no meu corpo e não luto por me libertar. Já fui livre dela, já me tentei libertar dela quando me atingiu por outras ocasiões… mas não agora. É que nessas outras ocasiões o força da corda magoava e desta vez não. Desta vez deixo-me ir, porque sei que quero ir, porque sei que quero acabar sufocado até aos olhos. E deixo-me embriagar, deixo-me modificar por este sentimento que me invadiu sem pedir autorização para entrar. Chegou sem avisar, entrou sem bater, instalou-se sem pedir e modificou-me sem sequer explicar ao que vinha. “Tens de viver comigo” disse num tom de gozo de quem sabe ter razão mas não ter meios de o provar. E eu fiquei mudo e não soube o que dizer. Porque as palavras estavam presas e não se soltaram. Porque me queria defender da invasão mas não fui capaz porque ela já cá estava e de cá não tinha intenção de sair. E deixei-me arrastar… deixei-me levar. Não posso dizer que foi voluntário, mas foi inevitável. É como a inevitabilidade de termos de respirar e encher periodicamente os pulmões.



Puxa-me esta corda de soslaio, amarrou-me qual presa fácil e eu não resisti. E não resisto. Porque vivo a corda entrelaçada, mas não sei quem a puxa. E a corda é aquilo que nos une, está no meio de dois termos de fio. E fico e vou ficando, na esperança que a corda me ajude a percorrer os caminhos do amor. Aliás, a corda é esse caminho, a corda é o amor. Quem a puxa é o objecto de amor que eu não conheço ainda. Mas sei que ele me puxa com força, porque o sinto dentro do peito. E senti-lo dentro do peito, atinge-me como uma tempestade. Esta corda das tormentas, esta corda que arrasta o mau tempo e que lança raios de luz que rasgam a uniformidade das trevas, esta corda é a minha vida. Estou no caminho que não escolhi mas que tenho de percorrer. Sei o destino mas não o conheço. Sei esta corda que me aperta a carne mas não me posso libertar dela, mas não me quero libertar dela. Por isso, deixo-me ir e nesta noite eu vou ser único. Nesta noite, eu vou chegar ao fim dos ladrilhos que piso. Esta noite vou ver quem me puxa. Assim sonho a cada passo que dou. Na vã esperança de ver quem me puxa. E sou eu, e sou assim, caminhante, amarrado e com um destino à minha espera. Vou para ele… é só uma questão de viver.